A arte pulsa em mim, colegas
Como qualquer imbecil-artista envia um "realize" (eu acho, veja bem, apenas acho, que ele queria dizer release) sobre sua exposição de "artes plásticas" imagino que acabo de conquistar o direito (já que minha área foi igualmente invadida) de me auto-proclamar artista. A partir de agora eu sou uma artista. Já conversei com colegas de redação (que também encheram o saco de ter opiniões e querem ser apenas alegres e despreocupados inúteis - não se ofendam, por favor, os artistas, (quase) nada pessoal) e agora eles já sabem que sou uma artista e resolvemos formar um "coletivo" (hoje é muito pobrinho ser só um artista, coisa de pé-sujo; o negócio é ter um "coletivo" e a "arte" em questão "dialogar", "conversar" com outras "manifestações artísticas" (tipo "as representações pictóricas - para os arigós, quadros - dialogam entre si" (sic), entende?). Enfim, estamos programando a nossa primeira exposição. Eu e minha colega, por exemplo, temos vídeos de laparoscopia de trompas e útero interessantíssimos. Mereciam ser exibidos, no mínimo, na próxima Bienal do Mercosul, nada deixam dever ao restante das obras. Raios-x, ecografias, seria ótimo, o nome poderia ser algo como "O solilóquio das entranhas" ou "Cauterizações efêmeras". Sem falar nas interferências urbanas que planejamos. Esse pessoal que pinta códigos de barra no asfalto ou cola adesivos sem sentido por tudo não está com nada. Pensamos em algo que proporcione maior interatividade do público, como espalhar salmonela nos lanches dos centros culturais ou despejar algumas centenas de baratas num concerto. Claro que as ações não podem ser restritas aos principais "equipamentos culturais" do Estado, precisamos pensar na descentralização (cultura para todos!) e inclusive arrecadar dinheiro para viajar de latão até o interior do Estado mostrando a nossa arte.